the space invader from brasil (aka tsi)


tsifrombrasil é fundador e mantenedor da Function, de 2007 a 2023.

É produtor cultural e DJ desde 2002. Começando a discotecar em Brasília, participando também de eventos em São Paulo, Goiânia e Uberlândia.

É parte da dupla Yngrid e Zya, já tendo participado do projeto Yzik e Zira. Como tsi, toca uma mistura de house,pop, tech... Produziu também, diversas trilhas

Em 2006, quando participou da segunda edição do Contato/Laços no Centro Cultural Oscar Niemayer, com organização de Letícia Cintra (RIP) em Goiânia, tsi passou a coordenar o Contato, que passou a ser virtual.



O Contato Virtual


Entre as realizações do grupo Function!, está o Projeto Contato Virtual, que acontece em 1o de dezembro em função do Dia Mundial de Luta Contra a Aids. DJs e VJs gravam sets especialmente para o festival, transmitidos pela rádio e disponíveis no Souncloud.

Em 2005 e 2006, o Contato teve duas edições físicas em Goiânia, na Praça Universitária e no Centro Cultural Oscar Niemeyer respectivamente, organizadas pela ONG Laços, de Letícia Cintra (RIP). Na edição de 2006 apresentaram-se Ekanta, Nego Mocambique, Hopper, tsifrombrasil e Astronauta Mecânico (VJ).

O projeto migrou para a internet, em 2010, para o Function Podcast e posteriormente, Function.fm, sendo coordenado por tsifrombrasil.

Dezenas de profissionais e aficionados da música, saúde e cultura eletrônica juntam seus esforços para chamar a atenção sobre a epidemia HIV/aids e seu enfrentamento. Djs, produtores, designers, artistas, fazem desta festa virtual uma praça para discussão de políticas públicas de saúde e cidadania. O projeto encerrou-se em 2023.

Blogs/links
https://fazendocontato2020.blogspot.com/
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Programas Function.fm - Houseworks por Costta + convidados

Acesse aqui os arquivos dos 25 programas Houseworks, gravados pelo Dj Costta (Brasília) - 2015/2016



Function.fm

Criada e mantida por tsifrombrasil, em 2007, a Function.fm é uma organização virtual voltada para o desenvolvimento de projetos culturais e artísticos relativos à música eletrônica e sua disseminação.

A implementação da rádio se deu inicialmente em razão do Contato Virtual, festival de música eletrônica transmitindo programas de parceiros e sets no endereço, ainda, function.com.br. 

Em 07 de abril de 2012, a function.com.br tornou-se function.fm, passando a transmitir 24 horas por dia com playlists e programas de parceiros.

A partir de 2018 iniciou-se a fusão da Function com o Coletivo Bait - Allaoy (aka Adelio Fornazier) e F.ornazier (aka Gustavo Fornazier). Quando juntos usam nome Irmãos Metralha. A Bait passou a coordenar a rádio com supervisão e administração geral de tsifrombrasil.

Com a parceria, os equipamentos da Function foram instalados na sede Guerrilha (inicialmente em Uberlândia) e permitiram treinamento para novos djs, gravação e divulgação dos sets de áudio (e posteriormente de vídeo). Isso permitiu o crescimento da Function, proporcionando a diversos DJs a primeira oportunidade de mostrar seus trabalhos.

Em 2024, com a saída do tsi, a rádio passou para o endereço functionfm.com, tendo a Bait assumindo a coordenação geral da Function, agora no link www.functionfm.com.

Function.fm e Functionfm.com

Após 2018 o Coletivo Bait fundiu-se à function.fm, permitindo a expansão da rádio virtual.

Com um local físico - Sede Guerrilha da Bait, em Uberlândia (atualmente BH), mais os equipamentos disponibilizados pela function.fm, possibilitaram diversos projetos, djs treinarem, gravarem seus sets, ter um programa na rádio e participarem das festas organizadas pela Bait.

Além das transmissões on-line, a rádio passou a trabalhar também com captação de vídeo, permitindo a gravação e publicação no Youtube.

De 2012 até 2023 o link da rádio foi function.fm. Sem nenhum apoio institucional ou comercial, foi custeada por tsifrombrasil até 2023, com a colaboração da equipe Bait.

A partir de 2024 a Bait assumiu a direção e coordenação total da rádio, migrando para o novo endereço: www.functionfm.com

DJs que já gravaram sets para o Contato Virtual

Andrea Gram
Reggie Moraes
tsifromperifa
Mauricio Rainnery
Hermes Pons
Nikkatze
Fabio Miranda
André Sakr
FLAVVIO
Franco, Gio e Paula
Costta
Nego Moçambique
Hopper
Ivan Sallas
Bal Oliveira
Ricco
Komka
Super Combo Funk
Hermeto
Leiloca Pantoja
Lucio Caramori
Oblongui
4tuna
Rami live
Fábio Popinigis
Janaína Jordão
Bavaresco
Cyntia
Benites
Prato Feito
Emanuele
Ekanta
Gey
Angel Snake
Cris Gonçalves
Paula Vargas
Kika
Madblush
Dany Bany
Kowalsk
Andre Urso
Amnesia
Arlequim
Nagô
Mazeone
The Porn Queen Rocks
Xandy
Daniel D
Nasck
ELLAS
Luciano Telesca
Renato
Sydd Mendes
Goos
Mari Rossi
Ana Flavia
Mopa
Benjamin Ferreira
San y Mayo
Magal
Camilo Rocha
Mauricio Rica
Renato Cohen
Tahira
Creep
Tonny Rocks
Neural
Bruno Jakob
Ezy
Gustavo Peluzo
Brasilia Jazz Unit
Dani Maddox
Gil Riquerme
Juliah Hormann
Diego Bertolini
Mihai Popoviciu
Martinique
Entu (DF)
André Sakr
Angel Snake
Ivan Sallas
Mari Rossi
Ana Flávia
Cris Gonçalves
Paula Dias
Kika
Nisek
Emanuele
Fabio Miranda
Madblush
Sydd Mendes
Allaoy
Giba
Diogo Genuíno
Lucas Vidal
Vitor Melgaço
Lara Luz
Túlio Alves
Molina
Morphün
EVVA
GUILLERRRMO
Gezender
Fornazier
ERAM
Caio Piras
Bright Clouds
Iguana
Allan Gonçalves
Amanda Bred
Thais Cunha
Stephan Maus
Bambi Dextrous
Celine Solution
Jesse Archer
Lula
Matt Breen
Travis Pagel
Stopme
Yasmin
Vini
Sugu
Gio

WESOUT

BIKUNHA

FER FERRINI

VERDEVORAZ

LINGUINI

SLOW

TINKER BELL

PERIGOU

CARRLOOS

DATDASK

ENCANTO

JVLIO

DJ DESEO

MORPHUN

TITANIA

ARPEGGIO

VIRGNIA

ARESZ

DJ DIA

COBAT

POMEGRANATO

SYÚ

CHAVECONFIA

NANATZU

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Space Invaders - Até 2023 - tsi podcast

O Blog começa aqui. 
         
 Os textos abaixo são recortes antigos referentes a música eletrônica.


















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O Daft Punk não existe mais

FSP, Pedro Antunes, 

O Daft Punk não existe mais.


Sem alarde, despedidas ou uma colossal apresentação final, chegou ao fim a dupla formada por Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter.


Não há qualquer justificativa para o fim do Daft Punk. A falta de explicações, inclusive, faz parte do que representou o duo ao longo dos 28 anos de existência.


O duo publicou apenas um vídeo sob o título de "Epilogue" (ou "epílogo", em português), com um trecho do filme do Daft Punk de 2006 chamado "Electroma", no qual os dois robôs que personalizam os dois músicos vagam pelo deserto e um deles explode.


Melancólico, como qualquer despedida.


Com 6 estatuetas e 12 indicações ao Grammy, o Daft Punk foi um dos grandes nomes da música mundial a se manter firme na contramão da superexposição midiática quase BBBzística a qual qualquer artista do pop é submetido para se manter no jogo.


Nascidos em 1974 e 1975, respectivamente, Homem-Christo e Bangalter tiveram uma banda de rock chamada Darlin' (com a participação de Laurent Brancowitz, músico que depois passou a integrar o Phoenix depois disso) antes de fundarem o Daft Punk.


O que sabíamos sobre a intimidade de cada um deles é pouquíssimo. Curtem ficção científica, como apontou a Rolling Stone EUA ao visitar o estúdio deles em uma rua no sul de Paris, diante de um box de blu-ray com a saga completa (na época) de Star Wars, têm filhos e farrearam o suficiente no início dos anos 90 quando sentiram esse desencanto pelo rock, piraram no acid house inglês e caíram de cabeça nas raves na capital francesa.


O sucesso do Daft Punk ajudou a semear a cultura do "faça você mesmo" na música atual, que abrange nomes como o pop de Billie Eilish à psicodelia do Tame Impala. O álbum de estreia do duo, o histórico "Homework" (de 1997), foi gravado no quarto de Bangalter, com sintetizadores, baterias eletrônicas e um punhado de samples, algo que fazia parte da cultura hip-hop.


Chame-me de romântico, se quiser, mas adorava o anonimato em torno do Daft Punk. Gostava de imaginá-los de fato como robôs que criavam músicas que apontavam para o futuro cada vez mais eletrônico da humanidade.


Isso parecia ficção científica desmedida em 1997, mas é bem comum hoje em dia, quando inteligências artificiais já são capazes de criar músicas a partir do conhecimento acumulado de determinado artista.


Não saber muito sobre Homem-Christo e Bangalter além do que diziam seus discos é old school, é "arte pela arte", sem passar pela intimidade do artista. A música diz tudo o que a gente precisa saber.


No caso do Daft Punk, ao longo de quatro álbuns - "Homework" (1997), "Discovery" (2001), "Human After All" (2005) e "Random Access Memories" (2013) - e uma porção de outras colaborações (como em "Starboy", do The Weeknd), ouvimos os encantos e desencantos de uma vida automatizada.


Em cada disco, a repetição e os loopings se faziam desesperadores e, ao mesmo tempo, hipnóticos, como uma cópia do nosso dia a dia repetitivo e monótono.


Daft Punk brincou com gêneros, flertou com o impossível e com a música orgânica, sem nunca precisar mostrar os rostos ou intimidades para fazer a música ir ao nosso encontro.


Com o fim do duo, encerra-se também a Era do Anonimato na música pop.


+


Daft Punk revolucionou o pop com estética dos robôs e volta à forma humana


FSP, Pedro Antunes, 22.02.21


A existência conceitual do Daft Punk era uma deliciosa ficção científica. Robôs humanoides que criavam músicas a partir do nosso cotidiano. Não precisavam "falar" muito. A repetição e os loopings, inspirados pelas raves frequentadas por Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter no início dos anos 90 em Paris, diziam tudo.


Desde o primeiro álbum da dupla, "Homework" (1997), com o hit "Around the World", o Daft Punk mostrou a repetição poderia tomar lugar da poesia para retratar um cotidiano cada vez mais mecânico e globalizado.... 

É interessante analisá-los agora, com o anúncio do fim da dupla, a partir da nossa perspectiva da vida automatizada e completamente dependente das máquinas - com aparelhos como Alexa, que respondem perguntas mais estúpidas ou às questões sobre a previsão do tempo, atendem aos pedidos de tocar música, criam timers e nos lembram dos afazeres do dia.

Daft Punk, formado por dois guris franceses que desencarnaram do indie rock e se apaixonaram pela música eletrônica, sempre foi altamente crítico à decadência do fator humano da sociedade, mas faziam isso a partir de beats e hits perfeitos para a pista de dança.


Como profetas de um futuro robótico e automatizado, o Daft Punk colocou a gente para dançar com um primeiro par de discos revolucionários, "Homework" (1997) e "Discovery" (2001), que celebravam a decadência da humanidade existente em cada um de nós.


Claro, "Harder Better Faster", é um hit poderosíssimo, com uma estética única de flertar com animes futurísticos...


Mas era nas entrelinhas que o Daft Punk fazia estrago


No mesmo disco "Discovery", da celebração da automatização e com a house music levada ao limite com "Harder Better Faster", eles se permitiam sofrer com uma pegada funkeada (na deliciosa e quebradora de corações "Something About Us") ou esfarelar conceitos dos solos de guitarra virtuosos com o looping de "Aerodynamic".


O curioso caso do Daft Punk é que, por mais robótica que fosse a música que o duo criava, ela mantinha os traços humanos.


Fosse em imagens gravadas em cartões de memória daqueles personagens robôs com os quais eles se apresentavam, fosse no sangue que ainda circulava entre as partes ainda humanas deles.


Enquanto Daft Punk caminhava por um terreno bastante desconhecido da música, levando a house e o tecno para além dos limites imagináveis, eles não deixavam de homenagear os grandes artistas da disco, do rock e do pop, o que ficou ainda mais evidente com o passar do tempo.


No limite entre o humano e o robô


Não é por acaso que o terceiro álbum, lançado em 2005, se chamou "Human After All" (algo como "humanos, no fim das contas") e brincavam com esse conceito em, por exemplo, "Robot Rock", o rock robótico do Daft Punk.


Mas o duo ficou longe dos holofotes por um tempo. Oito anos separam "Human After All" de "Randon Access Memories", o álbum derradeiro da dupla, de 2013.


Nesse meio tempo, o mito em torno do Daft Punk cresceu. Kanye West, por exemplo, usou "Harder Better Faster", em "Stronger", no disco "Graduation" (de 2007). No mesmo ano, o duo lançou o poderoso álbum ao vivo, "Alive 2007".


Quando "Randon Access Memories", o Daft Punk mostrou sua versão mais humana até aqui.


Enquanto produtores e DJs da música eletrônica fomentada pelo duo francês se tornavam estrelas de primeira grandeza da indústria, com o uso cada vez mais automatizado dos samples que foram fundamentais para a carreira do Daft Punk, Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter fizeram o oposto.


"Randon Access Memories" é uma ode à música orgânica, aquela tocada por instrumentos de verdade - e por seres humanos, é claro.


Foram vencidas cinco categorias do Grammy com esse disco que tinha as participações de Julian Casablancas (do The Strokes, em "Instant Crush"), Pharrell Williams (em "Lose Yourself To Dance" e "Get Lucky") e Panda Bear (em "Doin' It Right"). Além deles, o guitarrista Nile Rodgers, da banda Chic, assina três faixas.


A mais surreal das músicas era "Giorgio by Moroder", na qual o veterano produtor da música eletrônica Giorgio Moroder narra a própria história enquanto o Daft Punk constrói uma música em torno disso.


Mais oito anos se passaram desde aquele álbum. O Daft Punk seguiu em silêncio, com exceções às participações em "I Feel It Coming" e "Starboy", do The Weeknd. O que era a expectativa por um novo disco terminou com o anúncio hoje (22), de que o duo chegou ao fim.


Por mais triste que a despedida seja, ela faz sentido.


Quando ainda éramos só humanos, o Daft Punk mostrou o futuro das máquinas.


Agora que somos meio humanos, meio máquinas - em uma ideia mais conceitual do que literal, por enquanto -, é chegada a hora do Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter voltarem à forma humana, abandonando as personas robóticas que criaram com o duo.


E que esse seja, mais uma vez, o nosso futuro. Humano, afinal de contas.


Pedro Antunes - Daft Punk revolucionou o pop com estética dos robôs e volta à forma humana

O sertão foi inventado na música brasileira por Luiz Gonzaga com 'Baião'

Assim como 'Chico Mineiro', de Tonico & Tinoco, canção foi lançada em 1946, ano importante para o gênero caipira

Gustavo Alonso - FSP, 29.04.22


Há anos que são fundamentais na história da música brasileira. "Atraente", composição de estreia de Chiquinha Gonzaga, foi um estrondoso sucesso em 1877. A polca abrasileirada de Chiquinha foi fundamental para a consolidação do que viria a ser o choro no Brasil.


Quarenta anos depois, 1917 foi o ano da gravação do primeiro samba, "Pelo Telefone", de Donga e Mauro de Almeida, marco do gênero que se tornaria "nacional" em poucos anos. Foi em 1958 que João Gilberto gravou "Chega de Saudade", de Tom Jobim e Newton Mendonça, dando início à bossa nova, marco identitário de uma brasilidade cosmopolita. O ano de 1965 marcou o surgimento tanto da Jovem Guarda quando da MPB, vistos na época como polos opostos de nossa música.


Para o rock no Brasil, 1982 foi fundamental, especialmente a partir do sucesso da Blitz naquele ano, que alavancou uma nova geração de roqueiros. Em 2012 a música sertaneja conseguiu um espantoso sucesso internacional, "Ai se Eu te Pego", cantada por Michel Teló, consolidando a hegemonia popular-massiva do gênero no país.


Se todos esses anos são com alguma frequência lembrados por nossos historiadores da música, o ano de 1946 quase nunca é citado como fundamental. Uma pena, pois foi neste ano que duas canções reinventaram os sertões brasileiros.


Uma delas é a canção "Baião", composta por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira: "Eu vou mostrar pra vocês/ Como se dança o baião/ E quem quiser aprender/ É favor prestar atenção…". "Baião" é uma metacanção, ou seja, faz parte daquelas músicas que remetem ao próprio universo da canção. Ela antecede e cria a própria moda do baião dos anos 1940 e 1950.


Gonzagão já gravava na RCA desde 1941. Como instrumentista tocava mazurcas, valsas, polcas e choros em sua sanfona. Nada de baiões, xotes e congêneres. A partir de meados da década, ele começou a traduzir para o mundo da rádio AM da época o que ouvira na infância e adolescência no interior pernambucano.

Gonzaga ambicionava tornar-se também cantor, o que não agradava muito a direção da RCA. Esta é uma das razões de "Baião" ter sido gravada pelo grupo vocal Quatro Ases e Um Coringa no ano-chave de 1946, e não pelo próprio compositor. O reconhecimento dos autores e o sucesso do gênero musical forjado pela canção fez Gonzaga se tornar o rei do baião alguns anos mais tarde.


Por sua vez, Tonico & Tinoco já gravavam desde 1945 na Continental, sem grande repercussão. Em 1946 eles lançaram "Chico Mineiro", composição de Tonico e Francisco Ribeiro, que os colocou no primeiro escalão da música caipira: "Fizemos a última viagem/ Foi lá pro sertão de Goiás/ Fui eu e o Chico Mineiro/ Também foi o capataz...". A canção conta a saga do personagem-título, que foi a Ouro Fino comprar bois e, no meio de uma festa, foi baleado. A revelação vem no final da canção, na qual o narrador descobre ser irmão da vítima.


Antes de "Chico Mineiro", artistas caipiras imitavam a dupla Raul Torres & Florêncio. Após o sucesso da canção, Tonico & Tinoco se tornaram a principal referência do meio caipira. Participaram de diversos filmes, apresentaram programas de rádio, gravaram discos, apareceram nas revistas voltadas ao público do interior, enfim, adentraram a indústria cultural do seu tempo.


"Baião" e "Chico Mineiro" foram importantes pois catalisaram a invenção de nossos sertões musicais através da indústria cultural. O caso de Gonzaga foi mais radical, pois o pernambucano foi o responsável pelas primeiras gravações do baião. Nesse sentido, ele foi o inventor musical do Nordeste em disco, trazendo atrás de si uma infinidade de artistas que se vincularam à tradição do forró e seus diversos subgêneros, xote, xaxado, baião, coco, forró, toada e arrasta-pé.


"Baião" e "Chico Mineiro" foram importantes pois catalisaram a invenção de nossos sertões musicais através da indústria cultural. O caso de Gonzaga foi mais radical, pois o pernambucano foi o responsável pelas primeiras gravações do baião. Nesse sentido, ele foi o inventor musical do Nordeste em disco, trazendo atrás de si uma infinidade de artistas que se vincularam à tradição do forró e seus diversos subgêneros, xote, xaxado, baião, coco, forró, toada e arrasta-pé.


Tonico & Tinoco conseguiram repercussão em um gênero, a música caipira, que já vinha sendo gravada desde 1929. Mas atingiram um patamar de sucesso que ninguém antes havia obtido. Nesse sentido, ajudaram a construir um sertão cuja trilha sonora eram as toadas, os cateretês, as modas de viola, quadrilhas e outros subgêneros da cultura caipira.


Veiculados pela indústria cultural do seu tempo, o rádio e as gravadoras, Gonzaga e Tonico & Tinoco ajudaram a padronizar as diferentes vertentes musicais que existiam em suas regiões. Suas influências foram decisivas para normalizar e padronizar as produções locais.


No caso de Gonzaga, isso é ainda mais perceptível. Foi ele o inventor do trio sanfona-triângulo-zabumba. Antes dele não havia essa formação. Em algumas regiões do norte —como era então chamado o Nordeste—, era comum que instrumentos como o pandeiro e o melê —um arco de madeira com uma câmara de pneu fazendo papel de tambor— fossem os condutores percussivos em vários forrós. Outras microrregiões nordestinas tocavam de outros jeitos. Gonzaga padronizou tudo isso ao introduzir o par zabumba e triângulo e abandonar a sanfona de oito baixos pelo acordeão de 120 baixos. Ao ser vitorioso através da indústria cultural, Gonzaga forjou um padrão de identidade para a música sertaneja que não havia antes dele.


Ao mesmo tempo que padronizou, a indústria cultural tornou sons regionais distinguíveis para o ouvinte médio. Luiz Gonzaga e Tonico & Tinoco fatiaram nossa audição acerca do sertão musical nacional. Antes, tudo era música sertaneja, música dos interiores, tipo de canção frequentemente ouvida como menor nos centros urbanos do país. Depois deles, o sertão foi fatiado e padronizado, tornando-se claramente reconhecível e distinguível. Depois de "Baião" e "Chico Mineiro" ninguém mais confundia os sertões.


A indústria cultural dos anos 1940 foi uma faca de dois gumes —ao mesmo tempo que padronizou a música dos interiores, ajudou a forjar distinções e identidades macrorregionais. Por tudo isso, 1946 foi um ano-chave. Daqueles que nos definem e ajudam a entender quem somos. Daqueles que explicam uma nação.


https://www1.folha.uol.com.br/colunas/gustavo-alonso/2022/04/o-sertao-foi-inventado-na-musica-brasileira-por-luiz-gonzaga-com-baiao.shtml?


Electro na Bastilha

Do fim dos anos 90, quando ganhou fama mundial com o Daft Punk e o French Touch, até a produção atual, conheça a importância e as novidades da música eletrônica francesa

Carolina Vasone - Gama, FSP, 05 de Abril de 2022



A música eletrônica francesa é tão relevante e influente no mundo todo que até ganhou um termo próprio para identificá-la: French Touch. Ainda que nem todos os artistas se encaixem perfeitamente no rótulo, essa denominação serve para designar uma estética e um certo toque de classe que distingue essa música de qualquer outra.


A influência do French Touch muitas vezes transcende fronteiras e chega ao pop internacional – seja com o Daft Punk trabalhando com Pharrell, Nile Rodgers (Chic) e Giorgio Moroder, ou mesmo sendo sampleado pelo Kanye West; seja com Philippe Zdar (dos duos Cassius e Motorbass) produzindo The Rapture, Beastie Boys, Hot Chip e Cat Power. Há ainda Mirwais, que assinou a produção de álbuns da Madonna no começo dos anos 2000 (“Ray of Light” e “Madame X”). Com seu auge entre a segunda metade dos anos 90 até o início dos 2000, essa “mão francesa” na hora de produzir música continua a render frutos até hoje.


Mas, afinal, o que determina essa sonoridade do chamado French Touch? “Os franceses encontraram um novo jeito de mixar a disco music e o funk com a house e o techno”, define o narrador do documentário francês “French Waves”, de Julian Starke, lançado em 2017. É o caso de “Supernature”, de Cerrone, superstar da disco francesa. “Toco muito Cerrone, é muito atemporal. Mundialmente falando, acho que ele foi um marco na história da música”, diz a DJ Bárbara Boeing, mostrando a importância desse ícone da disco na música eletrônica até hoje.

Em termos de construção, há alguns pontos em comum, como a repetição da melodia e de samples (trechos de outras músicas) curtos e os vocais com filtros ou vocoder (programa que digitaliza a voz humana). “Embora tudo o que foi produzido naquela época, mesmo que com personalidades diferentes, tenha entrado nesse guarda-chuva do French Touch, ainda assim é elogioso, porque isso virou um holofote em cima da música francesa daquele momento”, acredita o produtor musical parisiense Alex Gopher.


Os ícones


Impossível falar de French Touch sem pensar imediatamente em Daft Punk. Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo, dois músicos parisienses de capacete e ar robótico, ainda são os representantes mais populares do estilo que deu à música francesa prestígio internacional e influenciou artistas do mundo todo. Para chegar até esse ponto de partida em 1997, quando o Daft Punk lançou seu primeiro disco, “Homework” (que venderia milhões de exemplares e faria a música eletrônica francesa ser admirada mundialmente), é preciso andar algumas casas para trás no tabuleiro e chegar ao techno tocado na França no início dos anos 1990, quando surgiram muitos nomes que estabeleceram a reputação da música eletrônica, e que são relevantes até hoje no mercado. É o caso do DJ e produtor musical Laurent Garnier.


“Nós construímos as bases, mas permanecemos na cena mais underground, sem fazer tanto barulho. É inegável que foi com a chegada do Daft Punk que o gênero se popularizou na França”, diz o artista no documentário “French Waves”. E completa. “O Daft conseguiu ao mesmo tempo ser underground e vender muito, mantendo sua integridade artística. Tiro o chapéu para isso. Eles foram os que realmente transformaram a cena musical.”


Pioneiro do techno na França, Laurent Garnier não só acompanhou como participou dessa transformação. Ele faz parte da primeira turma que, influenciada pelas sonoridades vindas de Detroit (pai do techno) e Chicago (mãe da house), iniciou a virada da então reinante disco music para a música dos sintetizadores na noite francesa.


Mas não foi tão fácil assim. “O techno não era considerado uma cultura, um gênero musical. Nenhum clube em Paris queria deixar a gente tocar”, conta, numa entrevista para a televisão francesa, Bob Sinclar, DJ e produtor musical que mais tarde viria a ser um dos símbolos do French Touch. David Guetta, um dos DJs mais populares do mundo, é outro que se iniciou na música eletrônica tocando em raves clandestinas dentro de túneis no então distante bairro de La Défense, em Paris. Um ano mais tarde, em 1992, Laurent Garnier estreava, com Éric Morand (na época diretor artístico do selo de música eletrônica da Fnac), uma noite no Rex, reduto da cena eletrônica e um dos poucos endereços que, desde 1988 (com uma festa inglesa chamada Jungle), tocava o gênero em Paris.


Entre as rádios, além da FG, grande propulsora da música eletrônica na capital, a rádio Nova, instituição de variedades e novidades francesas no ar desde 1981, começou a dar espaço para a cena em sua programação, convidando Laurent Garnier a fazer um programa de algumas horas chamado Paradise Garage, em que ele tocava não só o que havia de mais novo do techno internacional, mas muitos de seus contemporâneos DJs e produtores franceses.


Cena parisiense


Não por acaso, Laurent Garnier é chamado de “DJ dos DJs” por muitos artistas de hoje – ou de “papa”, como definiu a DJ Blessed Madonna, uma das mais importantes da sua geração, no documentário “Laurent Garnier: Off the Record”, lançado em dezembro do ano passado.


“Ele é um DJ que vai tocar techno, house, breaks, jazz, rock, criando diferentes atmosferas, surpreendendo, mostrando músicas novas e clássicas na hora certa. Poucos DJs hoje em dia sabem contar uma história com começo, meio e fim, com esse nível de conhecimento musical, ao mesmo tempo que tem técnica e uma leitura de pista supersensível. Por isso é o DJ dos DJs, é o cara que outros DJs correm para ver quando está tocando em uma festa”, diz a DJ e empresária Eli Iwasa. Promoter do extinto clube Lov.e, em São Paulo, onde Garnier tocou no início dos anos 2000, Eli acompanhou tanto o furor causado pelo DJ francês no Brasil como os intercâmbios gerados por essa aproximação, que possibilitou que DJs brasileiros como Renato Cohen e Mau Mau, Anderson Noise e Marky tocassem no Rex – onde o francês era residente desde os anos 1990. Garnier lançava ainda novos artistas franceses pelo Fcom, selo que manteve de 1994 a 2008 com Éric Morand.


Numa década sem redes sociais, em que a internet ainda era rudimentar, as trocas aconteciam pessoalmente, fosse em viagens, na noite ou nas lojas de discos ao redor da praça da Bastilha, que virou o epicentro parisiense da cena eletrônica noventista. Todos se cruzavam, tocavam uns nas festas dos outros e driblavam as ações da polícia que, por orientação do Ministério do Interior francês, fazia de tudo para o techno não vingar. O governo francês chegou a distribuir folhetos pelas principais cidades do país com o título “Raves: Situações de Alto Risco”. A partir de 1993, quando foi criado, o Daft Punk bebeu dessa fonte para fazer sua própria receita musical, que viraria o sinônimo do que foi batizado de French Touch.


Francês para inglês e o mundo verem


Curiosamente, o termo French Touch não é invenção de qualquer francês, mas da imprensa britânica, ao perceber a produção de uma série de artistas da música eletrônica francesa, que se encontravam na similaridade desse “toque”, ou para usar um termo francês, desse “je ne sais quoi” elegante e cool, mas que tinham suas particularidades.


Fazem parte do estilo, então, nomes contemporâneos dos anos 1990 mas com linguagens próprias, como a dupla Air (abreviação para Amour, Imagination, Rêve), de Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel, que lançou seu primeiro disco, “Moon Safari”, em 1998, apenas um ano depois do “Homework”, do Daft Punk. Conviveram, assim, na mesma atmosfera, a musicalidade mais lenta e flutuante do Air; o suingue robotizado do Daft Punk e da a dupla Cassius, de Philippe Zdar e Hubert Boombass; a house com influência da black music americana do duo Motorbass, de Philippe Zdar e Étienne de Crécy; a house com jazz de Dimitri from Paris. Sem esquecer, claro, do Stardust, um trio formado por Thomas Bangalter, Alan Braxe e Benjamin Diamond, criado para lançar uma única música, “Music Sounds Better With You”, considerado o hino do French Touch.


Saindo dos anos 1990 e entrando nos 2000, surge uma nova geração representada, entre outros, pelo electro da francesa Miss Kittin e, um pouco mais tarde, pelo maximal do Justice, duo formado por Gaspard Augé e Xavier de Rosnay, descoberto por Pedro Winter, DJ, manager do Daft Punk de 1996 a 2008 e dono do selo Ed Banger Records (responsável por lançar muitos clássicos contemporâneos, como SebastiAn e Mr. Oizo).


Hoje, há desde os clássicos franceses que seguem se renovando e garantindo lugar de relevância em grandes festivais, como David Guetta e Laurent Garnier, como uma infinidade de novos artistas criando novas sonoridades a partir – ou não – do French Touch original, como Phoenix, Jennifer Cardini, Cosmo Vitelli e Folamour. “Artistas mais ligados ao lado orgânico da música, que não tocam música eletrônica como regra, sempre me fascinam. Algumas referências francesas neste aspecto são Vidal Benjamin, pela sua coleção de músicas muito próximas do que amo, e também o jovem parisiense Souldade, dono dos edits que mais tenho tocado nos últimos tempos”, diz Bárbara.


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Este conteúdo é parte da série “Para conhecer a música francesa”, uma parceria institucional com a iniciativa “What the France”, marca de referência da organização CNM (Centre National de la Musique) criada para promover a diversidade da música produzida na França.


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Sucesso do sertanejo não se explica só pelo jabá, mas pela diplomacia musical

Gustavo Alonso , FSP, 01.04.22

Conhecida como caitituagem, a prática que une músicos caipiras envolve visitas a emissoras e políticos do interior do Brasil



A música sertaneja é oriunda dos interiores brasileiros. Desde meados dos anos 1980 ela também toca nas principais capitais do país, mas seu habitat são as cidades do interior. Já mostramos aqui nesta coluna que grande parte dos artistas sertanejos são oriundos do interior. E que os sertanejos têm apreço por gravar CDs e DVDs em palcos de pequenas e médias cidades dos interiores do Brasil. O sucesso da música sertaneja é em grande parte fruto desta política.


No entanto, quase sempre os críticos da música sertaneja demarcam que a popularidade do gênero se deve ao jabá, ou seja, à prática de se pagar para ter sua música tocada insistentemente nas rádios do país. De fato, a prática do jabá sempre existiu e não pode ser negada. Mas a relação com os interiores não se resume à compra de espaço em emissoras locais.


Para além do jabá, entre os artistas sertanejos é praxe também fazer a caitituagem, termo que se refere a uma prática que vem desde os tempos das rádios AM. Trata-se de visitar as pequenas emissoras do interior e construir boas relações com radialistas, programadores, empresários, políticos e público.


Quando um artista visita uma cidade do interior, ele não faz apenas o show. Antes e depois do espetáculo, há uma série de compromissos importantes para a consolidação do artista nos grotões do país. Estações de rádio, que ajudam a divulgar o show, são os principais lugares a serem visitados. Entrevistas e sorteios de ingressos e brindes são praxe. Mas há também visitas a autoridades e, dependendo do tamanho da dupla, campanha pelas ruas para atrair o público.


Se houvesse divulgação em larga escala, isso inviabilizaria a apresentação nas praças públicas, algumas de tamanho reduzido. Os shows da turnê não foram comunicados ao grande público, então Marília optou por dar "um passo atrás" na carreira e voltar à caitituagem mais básica.


Ela saía de manhã e de tarde pelas ruas das cidades por onde faria a apresentação, chamando o público para seu evento, distribuindo panfletos, abraçando fãs, tirando selfies, sempre sorridente.


Após os shows a caitituagem continua. É preciso receber os fãs no camarim, tirar fotos com patrocinadores, puxar o saco de autoridades locais, sorrir simpaticamente para todo tipo de insistente pedido. Essa tarefa pode envolver jantares e festas também. Quase sempre a caitituagem toma mais tempo que o show propriamente dito.


Aqueles artistas que não se prestam a esse cansativo papel são vistos pelo público e patrocinadores como "chatos" ou "metidos". Caso exemplar é o de Paula Fernandes, tão pouco afeita a esse desgastante trabalho de hora extra que já foi tachada de "antipática" algumas vezes.


Em 2018, a prefeitura de Taquari, no Rio Grande do Sul, contratou a cantora para um show na cidade. Logo após o concerto, Fernandes não teria recebido o mandatário da cidade no camarim. Indignado, o prefeito Maneco Hassen publicou em suas redes sociais: "Ignorou todos os fãs. Gente que veio de longe. Baita mala", disse o político. Em outro comentário, Maneco enfatizou: "Linda atitude no palco. Nos bastidores é uma mala completa". E completou: "Arrogante e mal-educada".


A fala do prefeito ilustra que se espera muito mais do artista sertanejo do que simplesmente cantar no palco. Discordando das críticas, Paula Fernandes falou em entrevista à jornalista Fabiana Pereira em 2021 no canal Papo de Música, disponível no YouTube: "Eu sempre fui muito séria. Mais um motivo para dizerem que eu sou metida ou que eu sou antipática. Mas eu estava ali para fazer o meu trabalho".


A cantora se justificou por desviar de jantares e festas pós-show: "Não estava ali para tomar cachaça com o contratante, não estava ali para poder ficar de ‘trelelê’ com ninguém. Isso foi malvisto muitas vezes", contou Fernandes.


Os críticos da música popular muito raramente analisaram a sério o papel da caitituagem. Prefere-se enfatizar o jabá, pois essa prática é a mais óbvia, direta e objetiva, fácil de ser notada e criticada. Trata-se da simples compra do espaço na mídia. A caitituagem, por sua vez, é menos óbvia e envolve relações complexas e instáveis, não objetivas e não totalmente lapidadas pelo uso extensivo do dinheiro. Às vezes o dinheiro pode até ser um atrapalhador da caitituagem. Um artista com muito dinheiro pode ser visto como "metido".


A caitituagem é uma prática que não pode ser compreendida só através da força do dinheiro. Trata-se mais de trabalho de formiguinha cotidiano, cansativo e desgastante. Torturante para muitos artistas, mas em alguma medida necessário para o sucesso massivo.


A caitituagem remete diretamente a antigas tradições brasileiras já descritas por Sergio Buarque de Holanda em seu texto "O Homem Cordial", que integra o clássico livro "Raízes do Brasil", publicado em 1936.


Segundo Holanda, a afetividade é uma marca da cultura brasileira. Daí a palavra "cordial", ou seja, relativo ao coração. As relações sociais no país são mais mediadas pelas relações pessoais e afetivas do que por uma racionalidade objetiva, prática e determinista. A atuação e a performance são, assim, fundamentais para a construção de boas relações. Ser "simpático" é tão ou mais importante do que comprar espaços na base do "pagou-levou".


Analisar a caitituagem é analisar o Brasil em suas entranhas. Trata-se menos da força do capital e do poder em sentido estrito, e mais de uma espécie de soft power, uma negociação que envolve camaradagem, afetividade, boas relações e simpatia. Se o jabá é o imperialismo do capital, a caitituagem é a diplomacia musical. O sucesso sertanejo se explica através de ambos.


Gustavo Alonso

Doutor em história, é autor de 'Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira' e 'Simonal: Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga'.


Opinião - Gustavo Alonso: Sucesso do sertanejo não se explica só pelo jabá, mas pela diplomacia musical